Adaptado
domingo, 26 de fevereiro de 2012
Continuo...
Continuo a mesma. Continuo no mesmo endereço, desde que nasci quase. Continuo com as mesmas árvores de folhas sempre verdes na calçada e as páginas do velho diário na gaveta. Continuo na mesma casa, que mais parece um bosque e um quarto que mais parece um labirinto de mim. Continuo com a mesma janela que dorme aberta. Continuo com o mesmo nome, o mesmo sobrenome, RG, CPF e Título de Eleitor. Continuo com o mesmo celular, o mesmo número de sapato. Continuo com o mesmo jeito direto que assusta algumas pessoas. Continuo a mesma boba que sorri por nada. Que faz bico quando chora. Continuo com o mesmo jeito nada tímido e meio tímido de falar com as pessoas. Continuo com a mesma cautela. Com o mistério que nem sempre é segredo. Continuo com um exagero abusado e um drama para achar graça. Continuo falando bobagens. Continuo acreditando nos amores. Continuo quebrando a cara. Continuo brincando de ser feliz. Continuo eternizando letras. Continuo a ser loucamente apaixonada pela lua cheia. Continuo com minhas insônias ou sono demais. Continuo a ter que me cobrir da cintura até os joelhos, mesmo que o calor seja imenso, ou então não durmo. Continuo com minhas defesas, medos, desesperos. Continuo vivendo muito para dentro. Continuo sem paciência pra fazer social. Vez ou outra dou uma de desentendida. Continuo crítica, principalmente comigo mesma. Continuo azeda, mas muito doce quando doce. Continuo do contra. Continuo tomando remédio pra dor nas costas e viro a pessoa mais sonolenta do mundo sob o efeito dessa droga. Continuo séria. Continuo sorriso. Continuo com o cotovelo direito me perturbando. Continuo a fazer telefonemas de carinho ali na varanda, olhando para o céu e poemas de amor, olhando pra ele. Continuo viciada em doces e a achar "Lisbela" o melhor filme. Continuo a reclamar do calor. E se faz frio, reclamo do frio. Continuo a preferir o inverno. Continuo fã de sorvete com muita cobertura. Continuo a me apaixonar todos os dias. Continuo a sofrer para pisar no chão e deixar a fantasia de lado. Continuo descaradamente sincera e franca. Continuo com umas coragens insanas. Continuo a irmã mais velha, não importa quanto os meus irmãos já estejam adultos. Continuo a perder a conta de quantos sonhos tenho. Continuo sendo várias, depende de quem me chama. Continuo brigando pelo meu lugar ao sol. Com quem quer que seja, não importa o preço. Continuo louca por abraços. Continuo a ouvir as músicas de Nando Reis, Caetano e Gadú incansavelmente. Continuo a sorrir dizendo que não tem nada a ver quando algo não me agrada. Continuo a fingir que não tenho medo de avião. Continuo a pensar poesia dentro do carro. Continuo preferindo andar na janela. Continuo a me preocupar com as revoltas naturais do mundo. Continuo com o mesmo perfume. Continuo sedentária, apesar das promessas. Continuo a trocar cinema por filme no sofá debaixo das cobertas, com pipoca e amor. Continuo lendo muito, mas não tanto quanto gostaria. Continuo a cobrir meu corpo inteiro quando durmo, ou pelo menos os pés. Continuo odiando filmes de terror e adorando comédias românticas bem melosas. Continuo obviamente inocente para as maldades do mundo. E chata. E teimosa. E arrogante. Continuo vivendo no mundo da lua, mas obrigada a pisar os terrenos da realidade cruel. Continuo calada quando muita gente fala ao mesmo tempo. Continuo essencialmente MPB e Bossa Nova. Continuo sempre com um trident de menta na bolsa. Continuo a escrever cartas que não mando. E-mails quilométricos pra mim mesma no futuro. Continuo a achar estranho unhas dos pés pintadas de vermelho, mas continuo pintando. Continuo a tomar banho fervendo, mesmo no verão. Continuo a escovar os dentes e andar pela casa toda enquanto isso. Continuo com a letra desenhada e meio ilegível, apesar de achá-la linda. Continuo a procurar erros de português em todos os cantos. Continuo a me sentir nua sem brincos. Continuo sarcástica. Continuo ótima ouvinte. Continuo sensível demais. Continuo insensível demais. Continuo achando domingo o melhor dia da semana. Continuo acumulando leituras indicadas. Continuo a achar que chuva forte é aplauso. Continuo com inveja das pessoas que gostam e aguentam horas a fio em festas e boates, eu continuo caseira e continuo amando iogurte de morango. Continuo a ganhar o dia quando me dizem que andei emagrecendo. Continuo com meus cachos indefinidos. Continuo a não usar batom. Continuo a achar nos livros uma saída. Continuo preferindo a calça jeans, mas visto mais roupa social agora. Continuo clichê. E me rendendo a algumas convenções sociais. Continuo a achar abacaxi a fruta mais gostosa desse mundo. Continuo apaixonada por flores. Continuo achando que preciso usar mais meus óculos. Continuo com preconceito musical, mesmo sendo bastante eclética. Continuo com preguiça de gente. Continuo com saudades imensas de um lugar que ainda não conheço. Continuo a sorrir quando vejo fotos antigas que trazem de volta momentos bons que não voltam. Continuo a sentar na grama. Continuo a me tranquilizar quando a chuva cai lá fora. Continuo na minha sozinhez, mesmo acompanhada. Continuo a brigar com minha escolha profissional e a amar o que faço e onde trabalho, mas ainda hei de ser rica e bem-sucedida longe dali. Continuo a amar loucamente minha filha e meu filho que ainda vão nascer um dia. Continuo a querer ser pedida em casamento todos os dias. Continuo a achar que chocolate é uma invenção muito digna. Continuo espiritualizada. Continuo a ver a presença da força divina em tudo que vivencio, de uma forma ou de outra. Continuo a não ser mulherzinha e a adorar coisas de mulherzinha. Continuo tendo amigas distantes. Continuo contraditória. Continuo guardando tudo pra mim. Continuo a ter crises de enxaqueca durante implosões. Continuo a tirar o esmalte com os dentes deixando o chão cheio de pontinhos vermelhos, quando ansiosa. Ando mais solta. Continuo me sentindo presa. Continuo amante de praias. Continuo me sentindo muito bem em frente ao mar, continuo gostando de olhar pro mar como gosto de pouca coisa nessa vida. Continuo fazendo planos de viajar muito. Continuo achando que sair sem destino certo e sem hora pra voltar o melhor programa do mundo. Continuo descabelada quando acordo. Continuo difícil de entender. E fácil de dobrar. Ou o contrário. Continuo dormindo com o MP3 ligado e agarrada ao travesseiro. Ou a tv ligada, pra espantar o medo do escuro. Continuo a contar meus amigos nos dedos da mão. Continuo com doses de melancolia. Continuo a voar para dentro das pessoas quando vejo pedacinhos meus por lá. Continuo sendo apaixonada por simplicidade e tendo uma fé inabalável. Continuo a chorar de repente, e assim ver o choro me aliviar. E depois planto sorrisos. Continuo a me gastar de maneiras lindas. E a contabilizar meus pedaços assim, todo dia e a cada fim de mês. No mundo que eu escolhi para meu. Que me recebeu, com suas dádivas e dores. E toda essa promessa de vida. E vários corações.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
“Vamos, não adianta nada chorar assim!”
(...) disse Alice para si mesma, num tom um tanto áspero, “eu a aconselho a parar já!” Em geral dava conselhos muito bons para si mesma (embora raramente os seguisse), repreendendo-se de vez em quando tão severamente que ficava com lágrimas nos olhos.”
in Alice no País das Maravilhas
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
Porque, pra viver de verdade, a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, dói demais. Mas passa. Está vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que estou falando a verdade. Eu não minto. Vai passar.
domingo, 12 de fevereiro de 2012
Você não brinca com uma criança ou colore uma figura com ela para mostrar sua superioridade. Pelo contrário, você escolhe se limitar para facilitar e honrar o relacionamento. Você é até capaz de perder uma competição como um ato de amor. Isso não tem nada a ver com ganhar e perder, e sim com amor e respeito.
A Cabana
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
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